22.1.16

o campo de gerânios


"não tem matemática".
m.d.c.

o campo de gerânios se abriu ao meio. nem o mar vermelho, amor, se abriu tão inteiro. eu já nem esperava qualquer mágica, assombro, rajada de fogo. e ainda assim: certeiro. veio descendo dos céus um anjo, mas não tocou trombeta, não exterminou nada, nem disse palavra. o serafim só me apontou o caminho como que dizendo 'vai, segue por aqui'. e eu que já havia caminhado tanto, nem sei quantas vezes eu tinha desistido, perdendo as contas de quanto tinha insistido, eu mesmo já era uma jornada longa. meus pés eram um território; meus braços, um teto político. eu era errante ignorante de por qual razão eu errava. olhei para os gerânios, sem marca de susto, ainda augustos mesmo que deitados no chão sendo caminho. depois do exílio, um passeio delicado para os pés cansados. pensei que veria um cortejo ou um castelo entre as pontas do campo. perdido em pensamentos, perdi o anjo. também perdi o medo. e encontrei na vista, em travessia pelo campo, outra errância em pessoa. obedeci o mando angelical por medo de adoecer porque quem não ouve deus desconhece o bálsamo da cura. e porque eu era impotente no deserto, nada era importante, era menos que um doente. tinha ultrapassado o jejum e o santo, a paz e a loucura. eu não sabia qual era nossa distância, mas, a cada passada de aproximação, os olhos cresciam de maravilha. até que: juntos. || a dois. as castanhas dos olhos castanhos, tão doces, tão enamoradas. porque não havia matemática, linguagem concreta, mensurável, imediata, aconchegamos rosto contra rosto, reconhecendo naquele encontro o desejo repetido nos antigos sonhos. era enlace perpétuo, repleto, prometido - sabíamos.
as almas, naquele instante, eram os próprios gerânios, uma paisagem de longilíneo campo florido.

.: marcio markendorf


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